fonte: O Globo
Preocupado com o destino do Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, Caxias, o Sindicato dos Médicos do estado ingressará com uma ação na Justiça, para tentar impedir um eventual fechamento da unidade, que é referência na Baixada Fluminense. A Organização Social (OS) Pró-Saúde vai deixar de administrar o hospital, alegando falta de repasses do governo, como revelou Ancelmo Gois, nesta quarta, em sua coluna no GLOBO. A Secretaria de Saúde confirmou que foi comunicada da decisão. Por meio de nota, o órgão disse que busca uma nova OS para gerenciar a unidade, e promete que não haverá interrupção nos atendimentos, já afetados pela penúria financeira do estado.
“É importante deixar claro ainda que a secretaria pretende que os funcionários que tiverem interesse em continuar trabalhando no hospital sejam absorvidos pela OS a ser contratada”, acrescentou a nota.
Além de ingressar com a ação, o Sindicato dos Médicos vai procurar o Ministério Público do Trabalho para garantir que não haja demissões irregulares. Ingressará ainda na Justiça do Trabalho, a fim de garantir que salários atrasados sejam pagos.
Na quarta, funcionários foram avisados pela Pró-Saúde que a organização deixará o hospital no dia 22 deste mês por falta de recursos para mantê-lo em funcionamento, porque o governo não “honrou o contrato”.
A notícia não chegou a ser uma surpresa, porque o Adão Pereira Nunes vem enfrentando sérias dificuldades. No comunicado, assinado pela diretoria do hospital, ela agradece o empenho dos funcionários para garantir um atendimento de qualidade e humanizado para os pacientes, mas ressalta que, a despeito disso, não será possível dar continuidade às atividades.
No site da Pró-Saúde, há uma descrição da unidade conhecida como “Hospital de Saracuruna” e de sua importância para os moradores do local. Perto das principais rodovias da área, a unidade de emergência contava com três mil colaboradores, incluindo médicos de diversas especialidades. Inaugurado em 1998, é uma das poucas unidades públicas da Baixada equipada com equipamentos para exames mais sofisticados, como de ressonância magnética. De acordo com estatísticas hospitalares, foram realizados, de janeiro até setembro deste ano, 4.778 cirurgias, 12.733 internações e 70 mil atendimentos de emergência.
RELATÓRIO: FALTA DE RECURSOS
Em nota, a organização declarou ter solicitado, em 21 de julho, que a Secretaria de Saúde reassumisse o hospital. Segundo seu site oficial, a Pró-Saúde administra outras cinco unidades estaduais no Rio, entre elas o Instituto Estadual do Cérebro e o Hospital Getúlio Vargas.
“Em resposta, datada de 25 de julho, a secretaria pediu à entidade que permanecesse na unidade, para que viabilizasse a transição, com a promessa de regularização das pendências dos valores contratuais. Como essa situação não foi resolvida, e com os constantes atrasos nos pagamentos, tornou-se inviável a permanência no hospital”, afirmou a OS.
No relatório mensal de atividades de agosto, divulgado noseu Portal da Transparência, a OS admite que disparou o tempo médio de permanência dos pacientes (9,57 dias) e despencou o número de cirurgias (390), resultados que nunca foram tão ruins desde 2014, na unidade:
“Resultados que atribuímos internamente à intermitência da disponibilidade de exames de tomografia, à restrição do fluxo de esterilização de materiais, ao desabastecimento de insumos básicos (…), causados pela falta de regularidade de repasse de recursos pelo estado (…). O cenário apresentado comprometeu de sobremaneira a gestão segura e a qualidade da assistência”, diz o relatório, assinado pelo diretor executivo da OS junto ao hospital, Marcel de Oliveira.
Presidente do Sindicato dos Médicos, Jorge Darze acusa a organização de ameaçar sair da unidade para pressionar o governo por pagamentos atrasados:
— Ela (a Pró-Saúde) está fazendo terrorismo para obrigar o governo a pagar o que é devido, o que é lamentável. A primeira providência que vamos tomar é informar o MP do trabalho. Estamos chamando a empresa para tomarmos ciência das razões que levaram a essa decisão. Para nós, essa decisão é um escândalo. Isso ameaça o futuro das pessoas. Alguns integrantes do estado que atuam junto ao hospital também dizem que a OS costuma usar a possibilidade de interromper serviços como forma de pressionar por pagamentos.
Sem recursos, a Secretaria de Saúde tem R$ 913,4 milhões em dívidas até setembro, segundo o Portal da Transparência do estado. É quase um terço dos R$ 2,99 bilhões em despesas executadas da pasta.